26 de mar. de 2012

Impressionante

Passei um tempo navegando a web em busca de um sentimento da adoção de SL no mundo, para ter o que comparar com o Brasil.

Bom, adotar SL deixou de ser uma questão. Agora existem outras questões - como, quando, para quê, por quê não etc.

Peguem esse link como exemplo: Driving Innovation. É um convite para um webinário sobre como a indústria automotiva está adotando SL. Vou transcrever (e acomodar no Português) um trecho do convite:
O evento vai mostrar:
  • Como e porquê a indústria automotiva está olhando SL como uma fonte de vantagem competitiva.
  • (...)
  • O nível de engajamento das companias automotivas com as comunidades de SL.
A pesquisa que serve de base para o evento é a primeira do tipo, e foi conduzida pela BearingPoint, cientificamente guiada pelo Professor Riehle, chefe do Grupo de Pesquisa em Open Source da Universidade de Erlangen-Nuremberg. Mais de 25 empresas responderam essa pesquisa.

Fala sério! SL é assunto de pesquisa universitária, com consultoria empresarial, no mercado automotivo!? Impressionante!

Sabendo que já existem lugares no mundo que permitem carros auto-navegados, isso se torna ainda mais interessante...

E aí, vai um Open Car? ;-)

19 de mar. de 2012

O Mercado de Trabalho do Software Livre é Social

Há algum tempo eu venho pregando a idéia de usar SL como blocos para construir soluções mais robustas, completas e complexas. No início eu estava inseguro sobre essa idéia - afinal, me parecia que eu era o único a acreditar e falar sobre isso.

Mais tarde eu descobri que uma pessoa realmente importante e que realmente entende do assunto também dizia o mesmo: Michel Tiemann, VP da Red Hat. Tive a imensa satisfação de poder conversar com ele pessoalmente durante o Consegi'09, e lá passei a ter a certeza messiânica de que essa idéia tinha futuro. Mas ainda era uma certeza muito pessoal, muito baseada na minha intuição. A realidade ainda não havia sido posta à prova.

Até que eu me inscrevi no LinkedIn e comecei a acompanhar algumas coisas. E eis que se cristaliza o conceito de Lego de SL em um projeto (com um nome que pode melhorar muito!)

Agora, mais uma vez no LinkedIn, eu sigo uma notícia e descubro que jBoss e eXo Portal foram integrados em um framework chamado GateIn.

Não pude deixar de concluir duas coisas:
  1. Lego Software Livre (LSL): não é mais uma idéia, já é um fato. Se vai dar certo, é a próxima pergunta.
  2. O mercado de trabalho de Software Livre provavelmente vai se fortalecer em portais sociais, como o LinkedIn.
A Era do SL^2?

O primeiro é muito importante: chegamos a um ponto de inflexão, e a partir daqui não há mais volta. A qualidade, complexidade e completude das soluções de SL vão crescer cada vez mais rapidamente. Já não será um crescimento linear ou quadrático, mas exponencial, pois cada novo pedaço de SL vai abrir campo para muitas outras combinações. Cada melhoria em um componente vai causar melhorias nas montagens (a solução Lego Software Livre, por falta de um nome menor ou mais inteligível - por um momento me passou na cabeça SLSL ou SL2.)

Vamos ver como isso vai evoluir. Mas eu escrevi esse post mesmo foi para falar do segundo item, então vamos em frente.

Referências

O segundo é um mero sinal de nossos tempos, esperado, mas não menos importante.

Você quer levar sua empresa de SL adiante? Então viva dentro de sites como LinkedIn, Facebook etc. Não digo que você pode abrir mão deles se sua empresa for, digamos, indústria de autopeças ou fábrica de tecido. Muito pelo contrário. Mas a natureza das empresas que buscam SL como opção é diferente das empresas que seguem os rumos já traçados do mercado clássico, bem como as empresas que fornecem SL são diferentes das que vendem licenças e serviços de SP.

Faça um Gedankenexperiment: coloque-se no lugar de um gerente de departamento de TI, com opção de adotar uma solução SL ou SP. Você já tem proposta de vários fornecedores, já sabe quais produtos te atendem melhor etc. Tudo resolvido. Nesse momento, segundo o Michael Bosworth, você fica com o pé frio. E se tudo der errado? E se nada funcionar? E se isso, e se aquilo?

O que todo mundo faz hoje, quando tem uma dúvida? Googles it.

É nesse momento que os sites de relacionamento profissional pesam: você pode ver a quem seus fornecedores estão ligados e pedir opinião dessas empresas e pessoas. Você pode conhecer os empregados deles, quem saiu, quem entrou, e talvez descobrir alguns porquês. Você pode ver além do terno engomadinho, da bolsa de marca, dos sapatos e perfumes dos vendedores - você pode se conectar à vida deles se eles tiverem essa vida on-line. Quem estiver no mercado virtual formado por esses recursos tem uma clara vantagem sobre quem não estiver. Quem for bom, se destacar no mercado e se expuser, terá corpos e corpos de vantagem sobre qualquer outro mais acanhado. Se você quer se destacar, apareça!

Em um mercado onde raras empresas de SL possuem marcas fortes como uma Impacta, uma 4Linux, ou mesmo a IBM, estar na vitrine das redes sociais vai fazer toda a diferença. Para empresas pequenas e médias, que representam a maioria quando se fala em SL, são esses locais virtuais que vão lastrear suas marcas e dar as suas referências para o mercado.

12 de mar. de 2012

Vingou

Você sabe que uma determinada idéia vingou quando começam a surgir suas aplicações de nicho. Diga lá: se você fosse uma imobiliária e quisesse fazer um site, para turbinar seus negócios, o que faria?

Provavelmente compraria esse serviço pronto, ou pagaria um hospedeiro e construiria uma página no braço.

Bom, qualquer que seja o caminho, ele acabou de ganhar uma mão do Software Livre:
Open4Listing
Open4Listing is a free and open source solution for the creation of a corporate website with classifieds. Developed mainly for Real Estate Agents, Brokers and Real Estate Professionals, Open4Listing is also used in other fields of activity, such as Auto Parts Sales, Heavy Industry Machinery Sales or Short Term Accommodation Rentals.

Open4Listing is powered by PHP and MySQL and was created by INFO CITY SRL, the company which developed several real estate portals, such as us-estate.com or reqAfrica.com.

The software is SEO-friendly, AD free and can easily be modified to meet users needs. With Open4Listing you can easily change colors, themes, implement a business logo or create categories and subcategories. To change any of these, follow the instructions on Open4Listing.com, sections Tips and Tricks or How To.

Open4Listing is a free and open source software licensed under version 3 of the GNU General Public License.
Esse anúncio saiu no LinkedIn: Open source classifieds website.

Francamente, não há mercado com o qual eu tenha menos contato ou saiba menos. Mas alguém achou que ele representa uma boa oportunidade de investimento e, contrariando a opinião do Sr. Gérson Schmitt, resolveu inovar e construir uma aplicação exclusiva para isso. Tão específica que até a questão de SEO foi levada em conta! E não é experimental: já existem vários casos! (Olhe no site deles.)

Uau! Me digam se isso não representa o sucesso da idéia de Software Livre? Vingou ou não vingou?

7 de mar. de 2012

Precisamos Explodir a Enterprise


Essa notícia  é um pouco antiga:

Software Livre tem 3% de Participacao no Mercado Nacional
A participação do software livre no mercado nacional de software e serviços é de 2,95%, segundo a 7ª edição da pesquisa “Mercado Brasileiro de Software — Panorama e Tendências” encomendada pela Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) e realizada pela IDC. O que equivale a US$ 0,5 bilhão

O estudo aponta que após uma década de apoio ostensivo de muitos representantes da gestão pública no país, em especial do governo federal, e bilhões de reais aplicados neste modelo, o desempenho não foi satisfatório.

“A pesquisa confirma o que os empresários têm alertado ao governo há anos sem serem ouvidos: o modelo de software livre não produz inovação, demanda mais mão-de-obra, remunera menos toda a cadeia produtiva, não é alto sustentável e seria praticamente inexistente em termos de PIB sem o governo como seu protagonista. Não entendemos a quem interessa insistir em mais uma década com uma estratégia que não tem resultados macro-econômicos relevantes, consome recursos milionários e ainda doa conhecimento estratégico em TI produzido com recursos públicos para concorrentes internacionais, que representam mais de 50% dos downloads do portal do software público”, Gérson Schmitt, presidente da Abes, em comunicado oficial enviado à imprensa.

Segundo a pesquisa, o mercado brasileiro de software e serviços cresceu 21,3% em 2010, e movimentou cerca de US$ 19,04 bilhões.
O grifo é meu. Essa pesquisa foi feita pela Abes. A Abes é uma organização muito importante para o Brasil, que representa os interesses das empresas de software, que emprega milhares de brasileiros e presta grandes serviços a todos nós. Por exemplo, ela é uma das principais empresas brasileiras na ação contra a pirataria de software, uma praga que destrói valor, que joga no lixo o trabalho de muita gente.


A declaração do presidente da Abes é muito interessantes. Ele diz, entre outras coisas, que SL:
  • Não produz inovação;
  • Demanda mais mão-de-obra;
  • Remunera menos toda a cadeia produtiva.
O que ele fala é verdade, mas (e esse é um grande mas) eu conheço o mercado de SL e sei que esses fatos não se prestam à interpretação crua.

Vamos revê-los.

Não produz inovação


É razoável supor que a inovação a que o presidente da Abes se refere seja, no mínimo, a inovação como entendida por empresas que produzem software - inovaçao em software. Criação e desenvolvimento de novos produtos.

Sob esse ponto de vista, eu acredito que ele está 100% correto. Software Livre dificilmente inspira uma empresa a criar algo novo, já que a venda de licença e serviços será mais complicada. Melhor exemplo é a Apple, que volta e meia é criticada por comunidades de SL dizendo que usaram e abusaram, e devolveram muito pouco (a mesma crítica que a Canonical recebe da comunidade Debian.

Demanda mais mão-de-obra

Como ele avalia isso? Não consigo imaginar, e não estou em posição de ir lá perguntar a ele. Mas posso sugerir uma hipótese: 100% de um departamento de TI que usa 100% de Windows resolve adotar, sei lá, RedHat. Esse departamente vai precisar contratar no mínimo alguns profissionais a mais. No futuro esse departamento pode treinar seus outros empregados para dar suporte aos novos produtos, mas com certeza precisará de mais gente, e hoje. Ou seja, usar SL significou aumentar o quadro.

Outra hipótese é que essa mudança se dá por conta de crescimento: ao invés de continuar com o que tem, resolvem investir em SL. Novos empregados, que seriam contratados de qualquer forma, contratação motivada pelo simples crescimento, vão ser contratados para esses novos produtos. Há menos mão-de-obra para SL que para outros. Logo, os salários são "diferenciados", o risco de turn-over aumenta, tudo se complica.

Eu diria que ele também está certo nesse caso, ainda que não posso dar mais certeza que no item anterior, já que eu tenha apenas um chute razoável sobre o critério aqui.

Remunera menos toda a cadeia produtiva

De novo, concordo com ele. Software Livre não faz parte da cadeia produtiva da indústria de software proprietário, e usá-lo significa esvaziar essa cadeia. São menos pessoas trabalhando nessa cadeia.

Será?

Vejamos de novo os argumentos, aproveitando o conhecimento que eu tenho sobre o mercado de Softare Livre.

Não produz inovação ?

Veja esses links:
O mais legal é que o artigo original saiu em junho de 2011, um pouco antes da pesquisa da Abes.

Em outras palavras, SL livre é o petróleo da inovação do mercado de capitais norte-americano na década de 2000. Sua existência mudou as regras do jogo. Me pergunto como deve ser esse cenário no Brasil.

A Pentaho Corporation foi fundada para unificar projetos de SL (dai o nome) e ganhar dinheiro vendendo Software Livre e serviços. O impacto do Pentaho foi tão grande que empresas de software proprietário lançaram versões SoHo e Cloud gratuitas (como a líder do mercado MicroStrategy.)
  • A comunidade de SL do Pentaho desenvolveu sua parte do bolo, também: um português que volta e meia nos visita, o grande Pedro Alves, codificou um framework de dashboards tão bom que a própria Pentaho o adotou ao invés de criar o seu.
  • Tom Barber e equipe estão desenvolvendo um novo visualizador OLAP, que deve substituir o jPivot completamente em breve.

A partir do trabalho de seu fundador, Miguel Valdes Faura, no OW2, a empresa Bonitasoft criou uma solução de automação de BPM (um BPMS) que praticamente definiu o padrão dessa solução no mercado de SL. Tamanho foi o sucesso desse conceito que grandes empresas de SL seguiram a idéia e lançaram concorrentes.

Finalmente, cheque meu post  Calibre sua Biblioteca.

Demanda mais mão-de-obra?

Vejam meu post Salários de especialistas Linux em alta nos EUA. Lido a frio, o comentário do presidente da Abes parece depor contra ele: não é bom aumentar a demanda por mão-de-obra? Isso não significa mais empregos? Como nós não temos a informação sobre o contexto no qual ele se expressou, não podemos seguir essa linha de raciocínio.

Por outro lado, pense um pouco: se é correta a hipótese de SL não se adequa ao mercado "clássico" de software, então estamos falando de um mercado novo, com enorme potencial de crescimento, tanto em empregos quanto em faturamento.

Existe uma empresa especialista em SL (no Brasil) que tem uma equipe de TI própria (para suas próprias necessidades) menor que a média da categoria. Eles conseguem ter um quadro menor porque usam 100% de SL para tudo. A experiência deles mostra que, embora não seja óbvio nem fácil fazer, usar SL e jogar pesado com RH tem um impacto sensível no quadro de empregados e no faturamento da empresa. Na experiência deles, seu quadro de TI tem proporcionalmente menos mão-de-obra que as outras empresa do mesmo porte e negócio. (Eu preciso conseguir autorização para publicar esse caso - é bom demais! Mas eles não querem chamar a atenção!!!)

Finalmente, qualquer adoção de novos softwares (e não apenas mais do mesmo), livre ou proprietário, traz embutida a pressão por mais mão-de-obra. O que diferencia uma pressão da outra?

Remunera menos toda a cadeia produtiva?

Que cadeia produtiva? Como comparar a cadeia produtiva de SL, que é simplesmente diferente da de SP?

Veja só isso:
  1. Uma empresa de pequeno-médio porte não pode arcar com custos típicos de soluções de BI.
  2. Uma empresa de SL oferece a esse mercado pequeno-médio soluções de BI mais em conta, usando Pentaho, com desenvolvimento, capacitação e suporte.
  3. Seus profissionais são treinados por outras empresas, de pequeno-médio porte, que vendem treinamento na plataforma e em BI.
  4. Essas empresas de treinamento desenvolvem ou compram o material de curso e...
  5. ...Para isso contratam profissionais, CLT ou freelancers.
  6. Esses profissionais investem na sua própria educação, para se manter atualizados e manter atualizados os cursos.
Isso não é só um exercício de imaginação! Busquem na web por suporte e treinamento em Software Livre! Veja quantas pessoas e empresas existem, no Brasil, nesse mercado.

Empresas como a Pentaho, a Bonitasoft, RedHat, Canonical, Compieri, EnterpriseDB e tantas outras possuem suas próprias cadeias de fornecimento, nas quais são empregadas muitas pessoas, e - mais que isso - atendem segmentos que tem menos capacidade de arcar com a estrutura e custos requeridos por muitos softwares proprietários e que são indispensáveis hoje em dia.

É, pura e simplesmente, um outro mundo, novo, com muito espaço para crescer.

Só para constar: a Bonitasoft com certeza está demandando mais mão-de-obra.  :-)

Conclusão

A Abes é uma grande organização (no sentido de importância e seriedade, não no tamanho), a serviços de empresas sérias e competentes, de um mercado importante e vibrante, no Brasil e no mundo. Ela existe no contexto da produção de software tal como um carro produzido em uma indústria de automóveis, que tem seu próprio orgão de apoio (a ANFAVEA.) Como um brasileiro cioso da responsabilidade que todo governante tem em gastar bem o nosso dinheiro, é esperado, é até uma postura moralmente imposta, que ele faça essas perguntas. Tem meu total apoio e fico feliz que ele as tenha feito.

Porém, como destaca Gary Hamel em seu livro O Futuro da Administração, pessoas mais vividas, experientes, tendem a se ligar emocionalmente com o que acreditam correto, e tem mais dificuldade de executar a quinta lição de liderança de James T. Kirk: às vezes é preciso mandar a Entreprise pelos ares (figurativamente, claro, já que ela literalmente faz isso o tempo todo), para poder continuar em frente.

O fato de o presidente da Abes estar certo, dentro de suas premissas, não muda o fato de que ele está errado, se o mercado estiver passando por uma evolução. A Abes simplesmente não representa esse mundo, esse mercado de SL, que teima em surgir, crescer e dar dinheiro a muita gente.

A Enterprise está explodindo! Todos para a sala de teleporte!! ;-)